O endividamento das famílias é uma variável macroeconômica fundamental para compreender a dinâmica de consumo da população e, portanto, a dinâmica da demanda agregada, que é fundamental para a determinação do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação.

Segundo Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pela Divisão de Economia e Inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e publicada no dia 5/10/2022, a “proporção de endividados cresceu em setembro, mas em intensidade menor do que nos últimos meses”. A síntese dos resultados obtidos no levantamento segue abaixo na figura 1.

Figura 1 – Síntese dos resultados da pesquisa relativos ao mês de setembro no Brasil, comparação com o período anterior (agosto/2022) e o ano anterior (setembro/2022).

Fonte: CNC, 2022.

    Pode-se notar que o endividamento das famílias cresceu, mesmo que a uma taxa menor, como indica a conclusão da pesquisa. Além disso, houve aumento significativo nas dívidas em atraso (29,6% para 30,0%), embora também foi verificada uma redução no indicador das famílias que não terão condição de pagar (10,8% para 10,7%).

    Segundo Brasil (2022), a pesquisa apresenta fortes indícios de que as alterações nos indicadores vistas no último mês foram, fundamentalmente, focadas no aumento da procura por crédito no varejo, isto é, das famílias de até 10 salários mínimos.

    Segundo o CNC (2022), cartões de crédito, carnês de lojas e o cheque especial foram os tipos de endividamento que demonstraram maior crescimento ao longo dos últimos doze meses, mas há evidência de uma migração realizada pelas famílias de menor renda na direção dos carnês, que apresentaram menor aumento de juros em relação ao cartão de crédito no período analisado. Os dados podem ser vistos na figura 2 abaixo:

Figura 2 – Evolução dos tipos de endividamento nos últimos doze meses (setembro/2021 a setembro/2022) para o Brasil.

Fonte: CNC, 2022.

    Para Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, a PEIC de setembro de 2022 apresentou resultados negativos, com aumento de 1,2 p.p em relação ao mês de agosto, que havia alcançado 59,7%, passando para 61,9% das famílias em condições de endividamento significativo (Fecomércio, 2022).

    O endividamento na capital vêm crescendo desde agosto, mas é relativamente menor do que o registrado para o mesmo período do ano passado, como demonstrado pelos dados da IPEC-MS, expostos na figura 3 abaixo, o que pode indicar um caminho de menor endividamento das famílias, o que pode ser representativo do aumento da taxa de juros ou, em um cenário mais otimista, uma maior capacidade de quitação das dívidas, o que é reforçado pela variação do indicador “não terão condições de pagar”, que caiu em 1,8 pontos percentuais.

Figura 3 – Evolução do endividamento das famílias em Campo Grande/MS em comparação com o mês anterior (agosto/2022) e o ano anterior (setembro/2021).

Fonte: Fecomércio MS, 2022.

    Ainda segundo a Fecomércio MS (2022), os indicadores apontam para um endividamento maior para a parcela mais pobre da população, abrangendo as famílias com até 10 salários mínimos, assim como uma liderança do endividamento via cartão de crédito e carnês de lojas, seguindo a tendência nacional indicada na análise anterior (Figura 2), como demonstrado na figura 4 abaixo:

Figura 4 – Tipos de endividamento em Campo Grande/MS nos últimos 12 meses (setembro/2021 a setembro/2022).

Fonte: Fecomércio MS, 2022.

    Alinhado com o endividamento das famílias no plano nacional, os indicadores em Campo Grande/MS demonstram também um impacto significativo da elevação das taxas de juros, e uma elevação do endividamento no varejo buscando o aumento/manutenção do nível de consumo, seja por uma elevação nível de renda nas camadas mais baixas, seja pela continuidade da pressão inflacionária.

     Os dados da pesquisa PEIC são disponibilizados mensalmente pelo CNC, normalmente na segunda semana do mês, sendo referentes ao período anterior e ao Brasil como um todo, os dados subnacionais são publicados em suas subdivisões representativas para cada estado, e levam alguns dias a mais para serem disponibilizados.

Referências bibliográficas

Endividamento atinge novo recorde em setembro, mas com menos fôlego. CNC, 2022. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/noticias/endividamento-atinge-novo-recorde-em-setembro-mas-perde-folego/443882. Acesso em: 29/10/2022.

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) – setembro de 2022. CNC, 2022. Disponível em: https://www.portaldocomercio.org.br/publicacoes/pesquisa-de-endividamento-e-inadimplencia-do-consumidor-peic-setembro-de-2022/443753. Acesso em: 29/10/2022.

BRASIL, Cristina Índio do. Endividamento e inadimplência crescem em agosto, diz CNC: Inadimplência alcançou 29,6% do total das famílias. Agência Brasil, 2022. Disponível em: Endividamento e inadimplência crescem em agosto, diz CNC | Agência Brasil. Acesso em: 29/10/2022.

Endividamento cai, mas Campo Grande ainda tem 189 mil famílias no vermelho, diz pesquisa: O cartão de crédito continua sendo a principal fonte de endividamento, apontado por 70,6% das pessoas. G1 MS, 2022. Disponível em: Endividamento cai, mas Campo Grande ainda tem 189 mil famílias no vermelho, diz pesquisa | Mato Grosso do Sul | G1. Acesso em: 30/10/2022.

Pelo segundo mês consecutivo, percentual de famílias endividadas aumenta na Capital. Fecomércio MS, 2022. Disponível em: Pelo segundo mês consecutivo, percentual de famílias endividadas aumenta na Capital – Fecomercio MS. Acesso em: 31/10/2022.

PEIC de setembro. Fecomércio MS, 2022. Disponível em: PESQUISA DE ENDIVIDAMENTO E INADIMPLE NCIA DO CONSUMIDOR – PEIC. Acesso em: 31/10/2022. 

Texto elaborado pela equipe do eixo de economia nacional:

Matheus Henrique Zonta – Acadêmico do curso de Ciências Econômicas – Esan/UFMS.

Prof. Dra. Luciane Cristina Carvalho – Curso de Ciência Econômicas – Esan/UFMS.

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